Termos do aparelho digestivo
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Obesidade
O que é?
É a quantidade excessiva de gordura no corpo. Ela aumenta o risco de doenças e de morte prematura.
Estas complicações médicas dependem do sexo, idade, distribuição da gordura, como foi o ganho de peso desde o início da idade adulta, nível de aptidão física da pessoa, fatores genéticos e doenças concomitantes como fatores de risco.
Como saber se sou obeso?
Você pode saber se é obeso, calculando seu Índice de Massa Corporal (IMC), através da fórmula:
IMC = peso em kg / (altura em metros)².
Portanto, se você tiver um IMC igual ou superior a 30 é considerado obeso e com maior possibilidade de eventos adversos à sua saúde que aqueles com sobrepeso. Quanto maior o IMC, maior a probabilidade de doenças relacionadas à obesidade e morte prematura.
No entanto, é importante salientar que algumas pessoas classificadas pelo IMC como obesas podem ter uma quantidade normal de gordura no corpo e possuir uma grande massa muscular. Estas pessoas não são consideradas obesas nem expostas aos seus riscos. O contrário também é verdadeiro, isto é, pessoas com um IMC normal, podem ter uma grande quantidade de gordura e baixa massa muscular.
O IMC deve ser considerado não como um critério absoluto para determinar os cuidados médicos a que você deve se submeter. Seu médico o examinará e, junto com outros critérios clínicos, considerará o IMC como um componente da avaliação do risco de doenças relacionadas à obesidade.
Existem outros fatores que podem modificar o risco relacionado ao IMC?
Existem. Eles são:
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Distribuição da gordura: Pessoas que apresentam excesso de gordura de localização mais alta no corpo, principalmente no abdome e entre as vísceras ("barrigudos"), têm maior risco para diabete, pressão alta, dislipidemia (excesso de gordura no sangue) e doença isquêmica do coração (angina, infarto) que aquelas cuja distribuição gordurosa está mais localizada na parte inferior (glúteo e coxas).
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Ganho de peso desde o início da idade adulta: O ganho de peso na idade adulta é um fator de risco adicional para complicações médicas. Um ganho de peso igual ou maior que 5 kg desde a idade de 18 a 20 anos aumenta o risco para o desenvolvimento de cálculos na vesícula, diabete, pressão alta, e doença cardíaca coronariana (angina, infarto).
Quanto maior o ganho de peso, maior o risco. Mesmo adultos considerados magros (IMC 18,5 a 24,39kg/m2) apresentam risco aumentado para estas doenças se ganharam mais que 5kg desde o início da idade adulta.
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Nível de aptidão física: Exercícios aeróbicos podem modificar o risco para o desenvolvimento de diabete ou doenças cardiovasculares associadas à obesidade.
As pessoas fisicamente aptas nos exercícios aeróbicos, têm uma menor incidência de diabete e de mortalidade cardiovascular que aquelas não aptas.
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Grupo étnico do indivíduo: Existem diferenças étnicas. Por exemplo, pessoas da Polinésia têm maior massa muscular e menor gordura corporal que pessoas de etnia branca com o mesmo nível de IMC.
Populações do sudeste da Ásia têm um risco maior de doenças cardiovasculares e diabete que pessoas brancas.
Quais fatores estão relacionados com o desenvolvimento da obesidade?
Os alimentos são a fonte da nossa energia, às custas da qual o corpo executa suas funções. Basicamente, a obesidade se desenvolve sempre que a quantidade de energia ingerida (em forma de alimentos) é maior que a gasta, num longo período de tempo. Este excesso de energia que não é utilizada armazena-se em nosso corpo sob a forma de gordura. Fatores genéticos e ambientais contribuem para o seu desenvolvimento.
Nos últimos anos as alterações ambientais muito contribuíram para o aumento da obesidade no mundo, relacionada principalmente a um aumento da quantidade de energia ingerida e uma diminuição das atividades físicas. Cada vez mais se fazem refeições fora de casa, as porções de alimentos são maiores, há uma maior disponibilidade de lanchonetes e fast foods, com uma variedade enorme de paladar dos alimentos.
O avanço da tecnologia conduziu ao desenvolvimento de aparelhos que realizam funções que anteriormente eram dependentes do dispêndio de energia pelas pessoas. Além disto, trabalhos e atividades sociais sedentárias e o transporte motorizado conduziram à diminuição das atividades físicas diárias da população.
Pessoas com tendências genéticas para a obesidade são particularmente predispostas a ganhar peso e doenças relacionadas à obesidade quando expostas a este estilo de vida moderno. Crianças gordas têm maior possibilidade de se tornarem adultos gordos.
Quais complicações médicas a obesidade pode ocasionar?
A obesidade é um fator de risco importante para muitas complicações médicas sérias, as quais conduzem a uma piora na qualidade vida, maior morbidade e morte prematura. De uma maneira sumária poderíamos citar:
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Aparelho digestivo: doença do refluxo gastroesofágico, cálculos de vesícula, pancreatite, hérnia abdominal, doença gordurosa do fígado não-alcoólica.
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Doenças endócrinas/metabólicas: síndrome metabólica, resistência à insulina, tolerância diminuída à glicose, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, síndrome do ovário policístico.
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Cardiovascular: hipertensão, doença cardíaca coronariana, insuficiência cardíaca congestiva, disritmias, hipertensão pulmonar, ataque isquêmico, estase venosa, trombose venosa profunda, embolia pulmonar.
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Respiratória: função pulmonar anormal, apnéia obstrutiva do sono, síndrome da hipoventilação da obesidade.
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Músculo-esquelética: osteoartrite, gota, lombalgia.
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Ginecológicas: menstruação anormal, infertilidade.
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Genitourinárias: incontinência urinária de stress.
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Oftalmológicas: cataratas.
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Neurológicas: hipertensão intracraniana idiopática.
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Câncer: esôfago, cólon, vesícula, próstata, cérebro, útero, colo uterino, rim.
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Eventos pós-operatórios: atelectasias, pneumonias, trombose venosa profunda, embolia pulmonar.
Quais são os benefícios da perda de peso?
Estudos recentes permitem concluir que a perda de peso intencional pode melhorar a sobrevida em pessoas com sobrepeso e obesas que tenham uma doença relacionada à obesidade, particularmente o diabetes mellitus tipo 2.
Além disso, melhora muitas das complicações médicas relacionadas à obesidade (diabete tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, apnéia do sono, diminui a sonolência do dia, melhora a infertilidade em quem era previamente amenorreica e infértil, alivia os sintomas - dor - relacionada à osteoartrite,etc.).
Tem, também, um grande impacto na qualidade de vida relacionada à saúde e à função física.
Qual o papel da atividade física?
Somente a atividade física não é um método eficiente para se conseguir uma perda de peso inicial. O déficit de energia gerado pela atividade física em pessoas obesas geralmente é muito menor e requer muito mais esforço que o déficit de energia gerado por uma dieta com redução de calorias.
Se adicionarmos um programa de exercício físico a uma intervenção dietética de curta duração (= 6 meses) não há aumento significativo da perda de peso inicial, a menos que seja uma atividade prolongada e intensa (p. ex. 88 minutos de caminhada rápida ou andar de bicicleta).
Embora não seja tão importante para a perda de peso inicial, o aumento da atividade física é muito importante para a manutenção do peso a longo prazo. Estudos demonstraram que a maioria dos obesos que obtiveram sucesso em manter a perda de peso a longo prazo participaram de uma atividade física regular. Por outro lado, pessoas que permaneceram sedentárias voltaram a ganhar peso.
Os efeitos benéficos do exercício sobre o peso do corpo envolve, provavelmente, mecanismos fisiológicos e psicológicos. A atividade física pode ajudar a prevenir o ganho de peso por consumir mais energia e por aumentar a auto-estima e o humor, os quais podem melhorar a aderência à dieta e a melhor lidar com situações relacionadas à compulsão alimentar.
Posso utilizar medicamentos para tentar perder peso?
Sim, você pode utilizar medicamentos para emagrecer, sob estrito controle médico, uma vez que as indicações devem ser precisas e pode haver ocorrência de efeitos colaterais indesejáveis, alguns deles importantes. No entanto, se houver a opção deste tipo de tratamento, alguns pontos devem ser considerados.
Os medicamentos não representam a cura da obesidade. Os medicamentos atuais têm efeitos clínicos significativos mas moderados sobre a perda de peso e doenças associadas à obesidade. Sozinho, ele não é tão eficiente quanto a um tratamento integralizado, isto é, com modificação comportamental, re-educação dietética e exercícios. Em outras palavras: a pessoa está exposta a todos os riscos da droga sem todos os benefícios médicos.
O tratamento deve ser a longo prazo, uma vez que há uma alta taxa de ganho de peso ao cessar o tratamento. Em alguns casos pode ser necessário o uso do medicamento por toda a vida. Seu médico deve, portanto, analisar os riscos a longo prazo da obesidade, os efeitos benéficos do tratamento com o fármaco em questão sobre a perda de peso e doenças associadas à obesidade, os efeitos colaterais e o seu custo. Nem todas as pessoas respondem ao tratamento com remédios. Se o mesmo não agiu nas primeiras 4 semanas, provavelmente não o fará nas semanas seguintes.
O medicamento não reduz indefinidamente a perda de peso. Geralmente a perda máxima é obtida até os 6 meses de tratamento e aí se mantém. Pode ocorrer, após um ano, que a pessoa volte a ganhar peso, porém este será menor do que se estivesse sem o remédio.
Quais as expectativas de uma pessoa que deseja perder peso?
Geralmente a pessoa que vai fazer um tratamento de obesidade tem uma expectativa de perda de peso muito maior que as expectativas reais do tratamento.
Esperam perder 2 a 3 vezes mais peso do que é possível obter com os tratamentos dietéticos, comportamentais e farmacológicos atuais. Pessoas que também procuram a cirurgia bariátrica têm expectativas de perda de peso irreais. Aceitam sacrifícios e riscos extraordinários para perder peso. Apesar deste grande desejo a maioria é incapaz de fazer as alterações necessárias a longo prazo para obter sucesso na perda de peso.
Por isso, é necessário que tenha uma boa conversa com o médico assistente, para esclarecer de uma maneira real o que pode ou não esperar a respeito da perda de peso, complicações de saúde, imagem do corpo e atividade social.
Por outro lado, é preciso estar consciente que, se não for candidato a uma cirurgia bariátrica, uma perda de peso em torno de 10% do inicial é considerado um sucesso, mesmo se permanecer com sobrepeso ou obeso após o tratamento, uma vez que o principal objetivo do tratamento (como de outros tratamentos) é melhorar a saúde e o bem estar e não só a aparência.
O que é cirurgia bariátrica?
Cirurgia bariátrica é o nome dado às intervenções cirúrgicas realizadas no aparelho digestivo para tratamento da obesidade e tem como objetivo promover redução do peso. É o modo mais eficiente de se obter a perda de peso em pacientes extremamente obesos. Consiste em reduzir o reservatório gástrico e/ou a absorção intestinal.
Qualquer pessoa obesa pode ser operada?
Não. Existem critérios médicos bem definidos para indicação da cirurgia, haja visto que a mesma não é isenta de riscos (e este risco está aumentado em pessoas obesas) e de morbidade a longo prazo. Então, ela é indicada em:
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Pessoas com índice de massa corporal (IMC) superior a 40kg/m2
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Pessoas com índice de massa corporal entre 35 e 40kg/m2 quando existir uma doença associada capaz de ser melhorada com a perda de peso: hipertensão arterial, diabetes, problemas articulares, apnéia do sono, etc.
É também recomendável o enquadramento nas condições abaixo:
- Obesidade estável há pelo menos 2 anos.
- Fracasso dos regimes alimentares ou medicamentos há mais de um ano.
- Ausência de doenças endócrinas descompensadas e distúrbios psicóticos graves.
- Compreensão e cooperação satisfatórias do paciente.
- Ausência de dependência em relação ao álcool e drogas.
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Risco operatório favorável (ausência alto risco anestésico ou doenças associadas de alto risco - cirrose, cardiopatias, pneumopatias, insuficiência renal crônica e outras).
Quem deve indicar a cirurgia?
O endocrinologista que acompanha há mais tempo o paciente deve ser preferencialmente aquele que indica a cirurgia. É útil a troca de informações deste profissional que conhece melhor o paciente, com a equipe cirúrgica.
A participação e acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra é muito importante na maioria dos pacientes.
A nutricionista é importante prevenindo e tratando as carências nutricionais quando presentes. Um programa de exercícios deve ser seguido, orientado por fisioterapeuta, antes e depois da cirurgia.
É recomendável, então, que uma equipe multidisciplinar esteja envolvida na cirurgia bariátrica.
O serviço deve ser composto por:
- Cirurgião
- Endocrinologista
- Psiquiatra e Psicólogo
- Nutricionista
- Fisioterapia